Respeitem minha inteligência

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Lembro-me de uma conversa que tive com uma jovem que havia crescido numa igreja, mas saído ao completar seus 20 anos de idade. Ela não foi crítica nem cínica; ao contrário, esbanjou sinceridade enquanto me contava sua história. A garota frequentava uma igreja grande, tendo participado dos ministérios de crianças e de jovens durante seus anos de formação. Ela disse que aprendeu muita coisa e fez grandes amigos. No entanto, quando chegou aos 20 anos, diz ela, “eu saí porque fiquei maior do que a igreja”. Essa afirmação pode parecer arrogante, mas, se você conhecesse a jovem ou pudesse ver seu coração, não chegaria a tal conclusão. Ela disse que as aulas eram repetidas a cada três ou quatro anos, talvez com um nome diferente para a série, mas era quase a mesma coisa com uma embalagem diferente. Disse que as letras da maioria das músicas eram mais próximas da “paixão romântica de adolescente” do que da adoração ao Deus transcendente e majestoso. Explicou que a música e a projeção das letras no telão davam a impressão de ser como um vídeo infantil da Disney, e quase se podia ver uma bolinha pulando em cima das palavras para ajudar na hora de cantar as músicas. Ela ficava entediada com os esboços simplistas do pregador e como na maior parte do tempo ele ignorava passagens problemáticas e temas controversos. Era tudo empolgante na adolescência, mas depois parece que ela ficou maior do que a igreja tinha para oferecer. Ela estava envolvida no serviço da igreja, mas queria realmente aprender, e não encontrava na igreja o nível que desejava. Descobriu que comprar livros e comentários teológicos para ler era mais útil que ir aos cultos.

Bem, eu sei que não é possível experimentar o corpo de Cristo no isolamento e que abandonar igreja não é a resposta. Precisamos fazer parte de um corpo local, e, com seu zelo no aprendizado, aquela jovem provavelmente seria uma excelente professora. Mas ela disse que, quando conversava com o pastor para expressar seus sentimentos, via que ele era pouco compreensivo e não estava disposto a criar nenhum novo curso teologicamente mais profundo que aqueles mais pragmáticos já existentes. O pastor não estava convencido de as pessoas em sua igreja gostavam de aprender, por isso não havia necessidade de buscar o pano de fundo histórico nem o contexto cultural das Escrituras. Ele explicou que as pessoas queriam simplesmente que suas “necessidades percebidas” fossem satisfeitas, que elas queriam saber como a Bíblia lida com suas atividades diárias. A jovem concluiu que as pessoas estavam mais interessadas em sua própria vida do que em aprender sobre Deus e a vida de Jesus. ela queria sinceramente aprender coisas mais profundas, desejava ter oportunidade de crescer. E assim, disse ela, “saí da igreja para encontrar Jesus”. Na época da conversa, ela estava buscando algumas igrejas tradicionais menores, onde parecia possível ter conversas mais inteligentes sobre teologia, mas ainda não havia encontrado uma igreja à qual se integrar.

A experiência dessa jovem não é algo isolado. Veja os comentários:

Aprendi mais da Bíblia nas aulas de literatura inglesa de uma universidade secular do que jamais aprendi numa igreja que tenha frequentado. – Alicia

Se eu fosse para uma igreja, gostaria de conhecer a cultura, a história e os construtos sociais da época para conseguir entender bem melhor o significado do que os autores bíblicos escreveram. Gostaria que a igreja respeitasse minha inteligência, confrontasse meu raciocínio e permitisse que eu debatesse aquilo que o professor diz, compartilhando minhas discordâncias quando necessário e tendo condição de fazer perguntas. – Gary

Fico muito empolgado ouvindo esses comentários, pois eles mostram que as gerações emergentes realmente desejam aprender a respeito de Jesus. E que ironia: muitos declararam não sentir na igreja ambiente para aprender sobre Jesus com a profundidade que desejam. Vivemos numa época maravilhosa de fome por espiritualidade profunda. Infelizmente, essa fome está sendo satisfeita pelos especiais de televisão sobre a origem do cristianismo e a respeito de Jesus, programas cuja perspectiva é a do Jesus histórico e daqueles não adotam uma visão ortodoxa de Jesus. Estamos perdendo a chance de ser uma voz que anuncie às gerações emergentes quem é Jesus. Que nosso desejo de alcançar aqueles que gostam de Jesus, mas não da igreja, nos leve a oferecer um nível mais profundo de ensino, não somente voltado à aplicação, mas também ao aprendizado acadêmico. As pessoas estão dizendo: “Queremos que vocês nos ensinem a Bíblia para aprendermos sobre Jesus. Mas nos ensinem com inteligência e não fiquem achando que não faremos perguntas ou não confrontaremos o que vocês dizem. Precisamos de espaço para fazer perguntas e de respeito por nossos questionamentos. Queremos um ambiente de aprendizado, não uma palestra aguada que ignora passagens difíceis ou simplifica os ensinos de Jesus”. O que mais poderíamos pedir?

Dan Kimball é autor de diversos livros sobre liderança, igreja e cultura; é pastor da Igreja Vintage Faith, em Santa Cruz, Califórnia. Retirado de Eles gostam de Jesus, mas não da igreja: insights das gerações emergentes sobre a igreja (São Paulo: Editora Vida, 2011), p. 223-225.

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