Perfeccionismo espiritual

A espiritualidade da perfeição traçada pela “meticulosa observância” [dos mandamentos] é algo insano e maléfico. Do ponto de vista psicológico, redunda clinicamente em psicogenia. Na visão que caracteriza a Terapia da Imperfeição, provoca a insurgência de um tipo de neurose direcional: o perfeccionismo é uma neurose que consiste na perda do sentido de direção. O indivíduo acaba por desorientar-se, por perder-se em relação à própria realidade, ou seja, em relação ao que ele é. Essa perda de sentido ou direção ocorre no mais profundo do ser humano: precisamente onde o homem descobre seu ser limitado e lhe é exposta a exigência radical de seguir, ou o caminho que o faz ‘voltar’ para si mesmo, ou o que o afasta de seu próprio ser limitado. […]

O inventário das culpas obteve como resultado que as almas “ímpias” se afastassem progressivamente da Igreja e que muitas das que eram “piedosas’, possuidoras de espírito religiosamente sensível, se tornassem facilmente vítimas de torturas psicológicas sutis. […]

O desejo de ser perfeitos, conforme postulado [pelo perfeccionismo], é contraproducente. […] Nota-se muito ressentimento entre os “justos” e os “honestos”. Muitos juízos a respeito de pessoas, condenações e preconceitos entre os “santos”. Muita ira entre as pessoas que se mostram muito preocupadas em evitar o “pecado”.

A atitude de inquisidor vem a ser o “precipitado” psicológico de uma perspectiva perfeccionista. […] Não há perfeccionista que não seja inquisidor, nem inquisidor que não seja perfeccionista. – Ricardo Peter, A imperfeição no evangelho (São Paulo: Paulus, 2000), p. 67-71.

Infelizmente, a realidade descrita acima não se limita a muitos judeus da época de Jesus ou do cristianismo medieval. Não é simplesmente algo a que se opuseram os autores do Novo Testamento, há 2 mil anos, ou Ellen White durante toda a sua vida, 100 anos atrás. Essa é uma realidade que está bem perto de nós e que produz escravidão, culpa, desunião, falta de amor e afastamento de Deus – as mesmas consequências que o pecado. Recentemente, uma cantora adventista escreveu o seguinte no Facebook:

Andando pelo Brasil afora, e ouvindo relatos de jovens que se sentem oprimidos com meias verdades, querendo de mim uma palavra de libertação e consolo, constato como algumas igrejas perderam o foco, viciando o povo a olhar para “usos e costumes” ainda nos dias de hoje, de civilização e cultura urbana, como se fossem leis, para simplesmente abafarem a podridão do que realmente é pecado. Mas enquanto meu Deus mandar, vou continuar fazendo a obra que Ele me mandou fazer, que é espalhar seu Amor e Graça por onde eu passar. Estou convicta e firme em Sua palavra, e somente em Sua santa palavra. Tudo em minha vida é dele e pra Ele, e somente Ele pode sondar os corações, aleluia! Como sou feliz com meu Jesus, é Ele quem abre nossos olhos, nossos corações, e ouve nosso clamor, pedindo por sabedoria e discernimento. Que o nosso querer seja apenas conhecê-lO mais e mais. Que Deus tenha misericórdia das nossas crianças, dos nossos jovens, do nosso povo!

Para saber mais sobre os males do legalismo e do perfeccionismo, e ter uma compreensão bíblica sobre a obediência, veja o artigo do teólogo adventista George Knight, “Eu costumava ser perfeito”, disponível neste site. Veja também os seguintes livros dele: The Pharisee’s Guide to Perfect Holiness: A Study of Sin and Salvation (Boise, ID: Pacific Press, 1992) e I Used to Be Perfect: A Study of Sin and Salvation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2001).

Back to Top