Gálatas sem mistério – parte 1

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O apóstolo Pedro já dizia que as cartas de Paulo “contêm algumas coisas difíceis de entender” (2Pe 3:16). Ele poderia ter acrescentado que a Epístola de Paulo aos Gálatas contém muitas coisas difíceis de entender. Confira uma pequena amostra de declarações intrigantes dessa carta:

Já os que se apoiam na prática da Lei estão debaixo de maldição (3:10).

Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando Se tornou maldição em nosso lugar (3:13).

A Lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor (3:24-25).

Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, […] a fim de redimir os que estavam sob a Lei (4:4-5).

Em outra carta, tratando do mesmo assunto, Paulo diz ainda:

Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da Lei, para que sirvamos conforme o novo modo do Espírito, e não segundo a velha forma da Lei escrita (Rm 7:6).

 Lei cerimonial?

Ao se depararem com textos como esses, muitas pessoas dão a seguinte explicação: quando o apóstolo fala “mal” da lei (como nos textos acima), se refere à lei cerimonial (que envolvia os sacrifícios); quando fala bem da lei (dizendo que ela deve ser guardada), se refere à lei moral (os Dez Mandamentos).

Essa solução popular resolveria todos os problemas, e poderíamos encerrar nosso estudo por aqui.

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Mas existem várias razões para rejeitarmos essa ideia. Uma delas é que, de acordo com os especialistas nas cartas de Paulo, o apóstolo não faz distinção entre lei moral e lei cerimonial (veja, por exemplo, Frank Thielman, “Lei”, em Dicionário de Paulo e suas cartas, ed. Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin e Daniel G. Reid [Vida Nova / Paulus / Loyola, 2008], p. 779-796).

Outra razão é que Ellen White discordava dessa interpretação. Ela escreveu:

Perguntam-me acerca da lei em Gálatas. Que lei é o aio [ou tutor] que nos leva a Cristo? Respondo: Tanto o código cerimonial como o moral, dos Dez Mandamentos (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 233).

Talvez Gálatas 3:24 e 25 (que lemos acima) seja o texto mais forte de toda a carta. Comentando especificamente sobre ele, Ellen White diz:

Nessa passagem, o Espírito Santo, pelo apóstolo, Se refere especialmente à lei moral (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 234, grifo nosso).

O fato inevitável é que não podemos aceitar

aquela velha distinção entre lei moral e lei cerimonial como a chave para se entender a epístola. Não que não houvesse leis morais e cerimoniais na vida do antigo Israel, mas o ponto é que tal distinção não é de forma alguma a solução para se interpretar Gálatas ou quaisquer outras passagens em que Paulo parece falar da lei de uma perspectiva negativa (Wilson Paroschi, “Lições de Gálatas”, Revista Adventista, maio de 2012, p. 18).

Portanto, ao mencionar a “lei”, Paulo está falando de toda a revelação dada por Deus aos israelitas no monte Sinai, e especialmente dos Dez Mandamentos.

Como, então, entender esses e outros textos aparentemente negativos sobre a lei?

Gálatas sem mistério – parte 2

Gálatas sem mistério – parte 3

Gálatas sem mistério – parte 4

0 Comments

  1. nemar

    Não deixo resposta alguma, pois, não respondo para os mais velhos. Fiquei contente com essa tua outra e nova casa. Que ela possa ser um bom instrumento do caminho, da verdade e da vida eterna. Vai, sim. Tenhor certeza. Gostei muito também do sub-título: Cristianismo na era contemporânea. (Aproxime-se logo do Gálatas, 2:20.)

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