Igreja, missão e pequenos grupos

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Nem a Reforma Protestante e nem a pregação das três mensagens angélicas conseguiu acabar com as grandes congregações. A centralidade de Cristo no plano da salvação foi restaurada, como também o foi o papel preponderante da fé como meio de se alcançar a salvação. A verdade do santuário celestial, a proximidade do juízo e a perene validade da lei de Deus, em particular do mandamento do sábado, também foram restauradas, mas continuamos com uma religião massificada, com congregações enormes, onde a participação se limita a uns poucos privilegiados, e talvez essa seja uma das principais razões pelas quais ainda não conseguimos concluir a obra.

Para não mencionar o excessivo ritualismo que não raras vezes caracteriza, por exemplo, a celebração da Santa Ceia em algumas de nossas igrejas, com cerimônias cansativas que se estendem por horas a fio, sendo que a maior parte do tempo é gasta tão somente com a distribuição do pão e do vinho. Em várias congregações, esse problema já foi resolvido com a distribuição conjunta dos emblemas e a adoção de cálices descartáveis, que não necessitam ser recolhidos.

Retorno às igrejas-do-lar?

O plano dos pequenos grupos é certamente muito bem-vindo. Ele contribui para resolver o problema das grandes congregações, embora não consista senão num retorno parcial ao modelo das igrejas-do-lar do cristianismo primitivo. Apenas um retorno completo – impossível, na minha opinião – àquele modelo, ou seja, pequenas congregações com, no máximo, umas poucas dezenas de membros, poderia gerar o nível de participação, comunhão e consagração necessários para que avancemos definitivamente rumo à conclusão da obra. E considero tal retorno impossível, em primeiro lugar, por causa da nossa própria cultura eclesiástica. Dificilmente construiríamos pequenos edifícios com capacidade para quarenta ou cinquenta membros apenas em vez de um edifício maior que comporte duzentas ou trezentas pessoas. Uma mudança cultural, portanto, precisaria preceder a mudança de paradigma. Em segundo lugar, o custo e as dificuldades logísticas de se substituir as grandes igrejas por pequenas congregações praticamente inviabilizaria a ideia, pelo menos a curto e médio prazo. É por isso que devemos apoiar o esforço pelos pequenos grupos. Embora, nos moldes atuais, não representem exatamente a prática primitiva da igreja, eles, sem dúvida, consistem na melhor opção para os problemas inerentes à massificação congregacional. […]

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As igrejas-do-lar do período apostólico (e pré-Constantino) não parecem ter sido implantadas em virtude de um imperativo divino, mas como resultado de circunstâncias específicas que as tornaram praticamente inevitáveis. Isso não significa, porém, (1) que Deus não estivesse guiando as decisões e os destinos da igreja; (2) que o modelo não tenha sido uma tremenda bênção para a igreja apostólica e pós-apostólica; ou (3) que não devamos nos esforçar para retornar a esse modelo. E é aqui que os pequenos grupos se encaixam. Embora não sendo um retorno completo ao modelo do cristianismo primitivo, eles certamente consistem na melhor estratégia disponível e viável no momento para diminuir o impacto das grandes congregações, que não propiciam o envolvimento e a interação necessários para que haja plena saúde e crescimento espiritual, tanto individual quanto coletivo. […]

Comunhão e missão

Grupos pequenos têm uma lógica inerente tão clara e óbvia que qualquer imperativo bíblico nesse sentido chegaria a ser redundante. Além disso, nem tudo o que é bom ou nem tudo o que fazemos precisa obrigatoriamente ser respaldado por um explícito precedente bíblico ou recomendação divina. Não é assim, por exemplo, com a Escola Sabatina, o Culto Jovem, o Clube de Desbravadores e vários outros programas da igreja? Mesmo que não tenham explícita base bíblica, ninguém ousaria dizer que eles são inválidos ou estão em desarmonia com a razão de ser da igreja. Dentro dos claros parâmetros ou princípios estabelecidos pelas Escrituras, temos liberdade para buscar alternativas e estratégias que levem à otimização dos vários departamentos e atividades da igreja como um todo e, assim, levá-la a cumprir mais cabalmente a obra que lhe foi designada. […]

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[Por meio dos pequenos grupos,] pode-se trabalhar também com a singeleza e espontânea comunhão que deve haver entre os membros da igreja, o amor sincero que deve uni-los, a oração de uns para com os outros, o encorajamento mútuo e o testemunho cristão. […]

A verdade é que talvez nunca tenha sido da vontade de Deus que tivéssemos grandes congregações com centenas e, muito menos, milhares de membros. No período de maior crescimento da igreja, período esse que se estendeu até o início do quarto século, as igrejas-do-lar, com no máximo umas poucas dezenas de membros, foram o instrumento mais eficiente para manter a igreja unida, fervorosa e dinâmica naquele que, talvez, tenha sido o período mais difícil de sua história. Não tenho dúvida de que os pequenos grupos poderão ter um efeito semelhante nestes momentos finais de nossa história na Terra.

Wilson Paroschi, Ph.D., é professor de Interpretação do Novo Testamento no Unasp. Retirado de “Os pequenos grupos e a hermenêutica: evidências bíblicas e históricas em perspectiva”, em Teologia e metodologia da missão: palestras teológicas apresentadas no VIII Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano, ed. Elias Brasil de Souza (Cachoeira, BA: CePliB, 2011), p. 366-369 (intertítulos acrescentados).

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