Espiritualidade urbana

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Outro exemplo de espiritualidade relacionado aos valores sociais e públicos diz respeito ao futuro das cidades. Os temas correlatos de espiritualidade e arquitetura, espiritualidade e planejamento e espiritualidade urbana têm despontado em tempos recentes. Por exemplo, tem havido congressos acadêmicos sobre “a cidade espiritual”. Leonie Sandercock, planejadora urbana reconhecida internacionalmente, escreveu sobre espiritualidade nas cidades em seu livro Cosmopolis II: Mongrel Cities in the 21st Century (Londres: Continuum, 2003). Ela abordou também a necessidade de se desenvolver uma espiritualidade para as profissões urbanas.

O mundo está rapidamente se tornando urbanizado, e o significado e futuro das cidades é um importante desafio espiritual bem como social. Em 1950, 29% da população mundial vivia em ambientes urbanos. Em 1990, esse índice havia subido para 50%. E, de acordo com estatísticas das Nações Unidas, calcula-se que aumentará para 60% por volta de 2025 e 70% em torno de 2050. No século 21, a “grande história” é uma migração global de pessoas do interior para a cidade. Pela primeira vez, a humanidade enfrenta um mundo megaurbanizado.

Enquanto defrontamos características urbanas no século 21, uma pergunta-chave é: Para que servem as cidades? Se as cidades devem ter significado em vez de simplesmente uma existência inevitável, é necessário haver uma reflexão muito maior sobre suas possibilidades civilizadoras e sobre como estas podem ser desenvolvidas. A cidade é o domínio público por excelência. Desde os dias de Platão e Aristóteles, as cidades são compreendidas como poderosos símbolos da comunidade humana e, em especial, como paradigmas de nossa vida pública. Em termos práticos, o que significa “público”? É o contexto onde interagimos com desconhecidos e onde pessoas diferentes buscam estabelecer uma vida em comum. Essa não é uma tarefa fácil. Mas, exatamente pelo fato de que as cidades combinam diferenças de idade, etnia, cultura, sexo e religião de forma singular, elas têm a capacidade de concentrar uma variedade de energias físicas, intelectuais, criativas e espirituais.

No provocativo estudo The City: A Global History (Nova York: Modern Library, 2006), Joel Kotkin sugere que, ao longo da história, as cidades bem-sucedidas têm cumprido três funções essenciais: proporcionar segurança, fomentar o comércio e criar um espaço sagrado. Embora o último com frequência seja expressado por construções religiosas, Kotkin argumenta que a cidade em si mesma é, ou deveria ser, um espaço sagrado, incorporando uma visão inspiradora da existência e da possibilidade humana. Mas o papel sagrado das cidades é amplamente ignorado nas discussões contemporâneas. Contudo, mais importante do que novas construções, espaço público e atenção à sustentabilidade ou aos interesses políticos, é o valor que as pessoas ocupam na experiência urbana. Uma cidade bem-sucedida é, em última análise, aquela que adota uma visão espiritual. Kotkin afirma que, sem uma visão compartilhada, é difícil vislumbrar um futuro urbano viável.

Philip Sheldrake é pesquisador sênior da Cambridge Theological Federation e professor visitante nos Estados Unidos. Retirado de Spirituality, A Very Short Introduction, v. 336 (Oxford: Oxford University Press, 2012), p. 91-92.

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