Estamos fazendo a diferença?

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Quando falamos em “missão”, geralmente pensamos em pessoas que moram em lugares distantes, cuja língua e cultura são radicalmente diferentes da nossa. […] Mas a maioria dos cristãos ocidentais acharia mais fácil compartilhar sua fé em Fiji, na Indonésia ou em Zimbábue do que em Nova York, Sydney ou Londres [ou São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre]. Portanto, é tempo de pensar seriamente sobre a missão no mundo ocidental. […]

Hoje, os adventistas estão empenhados como nunca antes no evangelismo público. Na maioria das igrejas, acontecem evangelismo por satélite, seminários proféticos e vários programas usados como pontos de contato (cursos sobre como deixar de fumar, saúde, relacionamento familiar). Pessoas continuam a ser alcançadas com a mensagem do evangelho. Existem testemunhos notáveis de conversão.

Mas precisamos ser honestos com nós mesmos. Uma típica igreja adventista não está transformando sua comunidade local, e muito menos o mundo, através de suas atividades. Não estamos afetando significativamente o coração da cultura ocidental. […]

Muitos preferem deixar a audiência [secular e pós-moderna] fora de seu alcance de consideração. Pensam que não devemos ir ao encontro das pessoas seculares nos próprios termos delas. Dizem o seguinte: “A verdade é a verdade, e ela não deve ser diluída para agradar aqueles que não seguem a Deus. Nosso trabalho é apresentar a mensagem como a conhecemos e amamos, e, se os outros não gostam dela, é problema deles”. […]

Deus vai ao encontro

Contudo, a Bíblia é clara sobre a importância de se dar cuidadosa atenção à cultura da audiência. “As lições deviam ser dadas à humanidade na linguagem da própria humanidade” (Ellen White, O desejado de todas as nações, p. 34). Quanto mais você se familiariza com a Bíblia, mais claro se torna que cada parte da Palavra de Deus foi dada no tempo, local, idioma e cultura de seres humanos específicos.

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Paulo, com seu título de “Ph.D.”, expressa a revelação de Deus de maneira diferente do pescador Pedro. João escreve num grego simples, claro, quase infantil. Por outro lado, o autor de Hebreus escreve num grego complexo e literário. Em Mateus, você vê alguém que compreende a mentalidade judaica e busca alcançá-la. Marcos, por outro lado, alcança a mentalidade gentílica. […]

A linguagem do Novo Testamento não era o grego erudito de Platão e Aristóteles, não era o grego das leis e dos discursos. Era a linguagem do dia a dia! Era a linguagem que as pessoas falavam nas ruas. O Novo Testamento não foi escrito numa linguagem celestial, nem na linguagem da elite cultural, mas na linguagem do dia a dia de pessoas do dia a dia. No Novo Testamento, Deus saiu de Seu caminho para ir ao encontro das pessoas onde elas estavam!

Ellen White afirma:

As Escrituras foram dadas aos seres humanos, não em uma cadeia contínua de ininterruptas declarações, mas parte por parte através de sucessivas gerações, à medida que Deus, em Sua providência, via oportunidade apropriada para impressionar as pessoas nos vários tempos e diversos lugares. […]

A Bíblia foi escrita por homens inspirados, mas não é a maneira de pensar e exprimir-se de Deus. Esta é da humanidade. Deus, como escritor, não Se acha representado. […]

O Senhor deu Sua Palavra justamente pela maneira que queria que ela viesse. Deu-a por meio de diferentes escritores, tendo cada um sua própria individualidade, embora repetindo a mesma história. […] Eles não dizem as coisas exatamente no mesmo estilo. Cada um tem uma experiência sua, própria, e essa diversidade amplia e aprofunda o conhecimento que vem satisfazer as necessidades das variadas mentes (Mensagens escolhidas, v. 1, p. 19, 21-22, grifo nosso).

Tudo para com todos

É esse princípio que motivou Paulo em suas atividades missionárias. A mais clara reflexão de Paulo sobre o assunto, 1 Coríntios 9:19-23, é uma ordem divina para se desenvolver o ministério com pessoas seculares. Paulo diz que alcançar pessoas que são diferentes de nós requer um sacrifício considerável. Se nós temos pouco sucesso em compartilhar o evangelho com pessoas secularizadas, é porque não escolhemos fazer esse sacrifício.

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Embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas. Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da Lei, tornei-me como se estivesse sujeito à Lei (embora eu mesmo não esteja debaixo da Lei), a fim de ganhar os que estão debaixo da Lei. Para os que estão sem lei, tornei-me como sem lei (embora não esteja livre da lei de Deus, e sim sob a lei de Cristo), a fim de ganhar os que não têm a Lei. Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns. Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele (1Co 9:19-23).

Essa é uma ordem para alcançarmos pessoas que são “diferentes” de nós. É uma ordem para aprendermos a falar às pessoas em uma linguagem que faça sentido a elas. […]

Deus nos convida a seguirmos Seu exemplo e irmos ao encontro das pessoas onde elas estão.

Jon Paulien, Ph.D., é diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Loma Linda (EUA). Retirado de Everlasting Gospel, Ever-changing World: Introducing Jesus to a Skeptical Generation (Boise, ID: Pacific Press, 2008), p. 13-18.

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