Apocalipse 11:18

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As nações se iraram; e chegou a Tua ira. Chegou o tempo de julgares os mortos e de recompensares os Teus servos, os profetas, os Teus santos e os que temem o Teu nome, tanto pequenos como grandes, e de destruir os que destroem a Terra (Ap 11:18).

A chave de Apocalipse 12-22

Apocalipse 11:18 contém cinco afirmações básicas. A sétima trombeta é o momento em que (1) as nações se iram, (2) chega a ira de Deus, (3) os mortos são julgados, (4) os santos são recompensados e (5) os que destroem a Terra são destruídos. Essas cinco afirmações formam um clímax apropriado para os juízos das sete trombetas.

Como já vimos, Apocalipse 11:18 é um texto duodirecional. Isto é, os cinco elementos principais desse versículo não apenas concluem os juízos das sete trombetas, mas também são um resumo prévio da segunda metade do Apocalipse (capítulos 12-22). A linguagem desse versículo é repetida nos pontos de virada da segunda metade do livro e dão pistas sobre como João teria estruturado essa parte do livro.

Portanto, temos o seguinte:

  • Apocalipse 12-14 – a ira das nações; especialmente o capítulo 13, mas também a atuação do dragão no capítulo 12.
  • Apocalipse 15-18 – a ira de Deus; a resposta de Deus ao ataque das nações no tempo do fim.
  • Apocalipse 19-20 – a destruição das nações e o julgamento dos mortos.
  • Apocalipse 21-22 – a recompensa dos santos.

Os cinco elementos principais de Apocalipse 11:18 estão organizados em dois grupos. O primeiro grupo é formado por duas frases que mencionam ira. A primeira frase usa um verbo (ôrgisthêsan) e expressa a ira das nações. A segunda expressa a resposta de Deus à ira das nações por meio de um substantivo (orge): “chegou a Tua ira”.

O segundo grupo no versículo envolve três verbos no infinitivo (“julgar”, “dar” [a recompensa] e “destruir”) que estão ligados a uma só frase: “chegou o tempo”. Essa frase une os três últimos elementos principais do versículo. O julgamento expresso no terceiro elemento claramente possui elementos positivos e negativos: é tempo de recompensar e de destruir.

Analisemos em mais detalhes cada parte do versículo.

A ira das nações

Vamos comparar as cinco declarações-chave desse versículo com os principais pontos de virada da segunda metade do livro. A primeira declaração é que “as nações se iraram”. Elas se iram porque tentam se opor ao fato de que Deus toma posse dos reinos do mundo (Ap 11:15-17).

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Nesse texto, o verbo para “irar-se” (ôrgisthêsan) é ecoado de maneira enfática mais adiante, em Apocalipse 12:17 (“O dragão irou-se”). Apocalipse 12:17 é simplesmente o versículo decisivo dos capítulos 12-14. É o clímax dos eventos históricos do capítulo 12, que, do começo ao fim, apresenta as ações do dragão.

Além disso, a ira do dragão contra a mulher em 12:17 resume o capítulo 13. A guerra furiosa contra os descendentes da mulher é levada avante pela besta do mar (13:1-10) e pela besta da terra (13:11-18). Por outro lado, o caráter e a mensagem dos descendentes da mulher (Ap 12:17) está no coração do capítulo 14 (v. 1-12). Então, na simples frase “as nações se iraram”, o autor do Apocalipse resumiu a essência dos capítulos 12-14.

A ira de Deus

O segundo anúncio neste versículo é que chegou a ira de Deus. Essa frase é ecoada em Apocalipse 15:1 (cf. 14:10), que apresenta as sete pragas como o meio pelo qual “se completa a ira de Deus”. Embora a sétima trombeta seja o “terceiro ai” (Ap 11:14), ela não é tão terrível como os dois primeiros ais (Ap 8:13-9:21). Isso porque a descrição completa do terceiro ai é deixada para as sete pragas de Apocalipse 16.

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Essa simples frase em Apocalipse 11:18 prepara o leitor para uma seção importante da segunda metade do livro. Apocalipse 17:1 e 17:18 relacionam os capítulos 17 e 18 aos eventos das pragas (capítulos 15-16); portanto, toda a seção de Apocalipse 15-18 é resumida na breve descrição de 11:18: “Chegou a Tua ira”. Apocalipse 15-18 descreve a resposta de Deus à ira das nações, simbolizada pela atividade do dragão e de seus aliados em Apocalipse 13 (cf. 16:13-14).

Essa explicação nos ajuda a compreender melhor a segunda metade do livro. É difícil posicionar os capítulos 17 e 18 na estrutura do Apocalipse. Alguns estudiosos os conectam ao capítulo 19, outros ao capítulo 16 e ainda outros os situam em uma unidade separada. Apocalipse 11:18 fornece a chave para uni-los à “ira de Deus”, tal como é expressa nas sete pragas.

Podemos perguntar: Com base nas duas primeiras frases deste versículo e de seus paralelos em Apocalipse 12:17 e 15:1, qual é a questão central discutida em Apocalipse 12-18? A resposta é esta: Na crise final da história da Terra, as grandes potências do mundo se opõem a Deus (“as nações se iraram” contra Deus) e O atacam ao atacar o Seu povo (capítulos 12-14). Deus responde decisivamente nos capítulos 15-18, oferecendo um poderoso contra-ataque aos poderes que estão oprimindo o Seu povo. Portanto, o tema central de Apocalipse 12-18 é a última batalha espiritual entre Deus e os poderes malignos e opressores do mundo.

O julgamento dos mortos

O “tempo de [julgar] os mortos” nos leva aos mil anos de Apocalipse 20. A linguagem aponta especificamente para o versículo 12, que fala sobre o julgamento dos mortos diante do grande trono branco, no final do milênio. Se adotamos uma posição pré-milenarista (isto é, a segunda vinda de Cristo ocorre antes dos mil anos), a sétima trombeta não cobre apenas o curto período entre o fim do tempo de graça e a Segunda Vinda, mas se estende muito além: envolve todo o cenário de Apocalipse 20, incluindo os eventos do fim dos mil anos.

A recompensa dos santos

A Bíblia de Jerusalém reflete com precisão o texto original: “dar a recompensa”. A combinação das palavras “dar” (dounai) e “recompensa” (misthon) antecipa especificamente Apocalipse 22:12, em que Jesus promete trazer Sua recompensa consigo quando voltar.

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A palavra “recompensa” é usada muitas vezes no Novo Testamento para descrever o pagamento do salário (Mt 20:8; Lc 10:7; Jo 4:36; 1Tm 5:18; 2Pd 2:13, 15). Contudo, em Apocalipse 11:18 e 22:12, trata-se de uma metáfora, porque a recompensa da vida eterna não é adquirida por nós, mas a recebemos “de graça” (22:17).

Apocalipse 22:12 é um versículo-chave que nos leva a toda seção sobre a Nova Jerusalém (Ap 21-22). Então, mais uma vez, 11:18 resume com antecedência o que vem a seguir.

A destruição dos que destroem a Terra 

A frase “destruir os que destroem a Terra” não se refere à ecologia, mas provavelmente remete à história do Dilúvio. Gênesis 6:11-14 usa linguagem semelhante para mostrar que a Terra estava cheia de iniquidade, o que levou à sua destruição por um dilúvio. Jeremias usa palavras semelhantes para falar a respeito dos pecados da antiga Babilônia (Jr 51:25).

A destruição dos que “destroem a Terra” também aparece no texto grego de Apocalipse 19:2. Em português, Apocalipse 19:2 afirma que Babilônia “corrompia a Terra”, mas, em grego, é usado o mesmo verbo que em 11:18 (Ap 11:18 – diaphtheirai; 19:2 – ephtheiren). Essa é uma interessante explicação adicional sobre 11:18, já que o capítulo 19 é a única parte de Apocalipse 12-22 que não está relacionada aos quatro primeiros elementos-chave de Apocalipse 11:18. Portanto, essa frase completa as referências a Apocalipse 12-22 presentes nesse versículo.

Conclusão

Quando comparamos Apocalipse 11:18 com passagens-chave dos capítulos 12-22, concluímos que esse texto não é apenas o clímax das sete trombetas, mas oferece um resumo do que ocorrerá no restante do livro. Ele é como uma articulação que une as duas metades do Apocalipse. Em apenas uma frase, o autor apresenta o esboço dos eventos que serão narrados na segunda metade do livro.

Podemos resumir da seguinte forma o estudo que fizemos acima:

  • Apocalipse 12-14 – A ira das nações inclui a ira do dragão (Ap 13) e a resposta do remanescente (Ap 14). Apocalipse 12-14 apresenta a essência da batalha a partir da perspectiva terrestre do dragão e do remanescente.
  • Apocalipse 15-18 – A ira de Deus mostra a batalha final a partir da perspectiva de Deus, incluindo a Sua resposta à ira das nações. Ele dá início às pragas e derrota a prostituta Babilônia e a cidade de Babilônia.
  • Apocalipse 19 – Deus destrói os que destroem a Terra.
  • Apocalipse 20 – O milênio. Ele é mais bem situado após os eventos dos capítulos 12-19. Estudaremos a respeito dessa questão no comentário de Apocalipse 20.
  • Apocalipse 21-22 – A nova Terra.

Jon Paulien, Ph.D., é diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Loma Linda (EUA). Retirado da sua página no Facebook.

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