Gálatas sem mistério – parte 2

A chave: Gálatas 3:19-25

Gálatas 3:19-25 é a grande chave para entendermos as declarações aparentemente negativas de Paulo sobre a lei. Segundo os estudiosos, esse texto “é o ponto central da resposta de Paulo aos problemas na Galácia” (Richard N. Longenecker, Galatians, Word Biblical Commentary, v. 41 [Nashville, TN: Thomas Nelson, 1990], p. 137).

No capítulo 3 de Gálatas, Paulo argumenta que a lei dada no monte Sinai não anulou o fato de que a salvação é somente pela fé (Gl 3:6-9). Portanto, a lei não salva.

Por que, então, a lei foi dada no Sinai? Qual era o objetivo dela? Paulo responde essa pergunta em Gálatas 3:19-25.

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Nesse texto, lemos o seguinte:

Por que, então, a Lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente [Cristo] a quem se fez a promessa. […] A Escritura confinou tudo debaixo do pecado, para que a promessa, que é pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem. Antes que viesse a fé, éramos guardados debaixo da Lei, confinados para a fé que seria revelada. A Lei se tornou nosso disciplinador, levando-nos a Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Porém, tendo vindo a fé, já não estamos mais debaixo do disciplinador (Gl 3:19-25, minha tradução).

Esse texto diz claramente que a lei teve um começo e um fim. Ela teve início na época de Moisés, no monte Sinai (“foi adicionada por causa das transgressões”) e teve um fim quando Cristo veio à Terra (“até que viesse o Descendente”).

Mas, a lei não é eterna? Sim, a lei é eterna como Deus, porque é a transcrição de Seu caráter. Isso está correto, de outra forma o pecado não teria existido antes de Moisés (Rm 5:12; 2Pe 2:4), porque “pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4; cf. Rm 4:15). Abraão, por exemplo, já guardava a lei de Deus (Gn 17:1, 9; 18:19; 25:6). O livro de Gênesis mostra que os mandamentos que se tornariam parte do Decálogo, inclusive o sábado (Gn 2:2-3; cf. Êx 16:22-30), já eram obedecidos pelo povo de Deus.

Então, em que sentido a lei teve um começo e um fim?

No texto bíblico que lemos acima, as três frases destacadas apresentam uma tríplice função da lei:

  1. motivo de a lei ter sido dada: a apostasia dos israelitas no Egito. A lei “foi adicionada por causa das transgressões” (Gl 3:19). Em outro texto, Paulo apresenta a mesma ideia: “A Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada” (Rm 5:20). Portanto, a lei revela o pecado.
  2. resultado de a lei ter sido dada: condenou os transgressores à morte. “A Escritura confinou tudo debaixo do pecado” (Gl 3:22). A mesma ideia está presente neste texto: “Sabemos que tudo o que a Lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o juízo de Deus” (Rm 3:19). Para quem ainda não foi salvo, a lei traz morte (2Co 3:6-7) e condenação (v. 9). Portanto, a lei condena o pecador.
  3. propósito de a lei ter sido dada: fazer os pecadores sentirem necessidade de Cristo, conduzi-los a Ele. “Levando-nos a Cristo, para que fôssemos justificados pela fé” (Gl 3:24). Portanto, a lei conduz a Cristo.

Resumindo, a lei:

  1. revela o pecado,
  2. condena o pecador e
  3. conduz a Cristo.

Portanto, quando Paulo fala sobre a lei em Gálatas, ele se refere a essa tríplice função relacionada com o pecado.

É importante notar que, embora essa função da lei esteja presente na vida de todo ímpio, a ênfase de Paulo está na história de Israel. No Egito, os israelitas haviam perdido a noção do verdadeiro Deus, do certo e do errado, e agora precisavam reaprender. O que aconteceu no Sinai teve essa função: a lei em tábuas de pedra para ensinar que eles eram pecadores e o ritual do santuário para ensinar a solução (o Salvador).

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Ellen White resume muito bem as ideias básicas de Gálatas 3:19-25:

A lei de Deus, proclamada em terrível majestade do Sinai, é a declaração de condenação ao pecador. A função da lei é condenar, mas não há nela nenhum poder para perdoar ou redimir. […] Ela traz […] escravidão e morte aos que permanecem debaixo de sua condenação (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 236-237).

“A lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gl 3:24). Nessa passagem, o Espírito Santo, pelo apóstolo, Se refere especialmente à lei moral. A lei revela nosso pecado, levando-nos a sentir nossa necessidade de Cristo e a fugir para Ele em busca de perdão e paz por meio do arrependimento para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus Cristo (ibid., p. 233-234).

Gálatas sem mistério – parte 1

Gálatas sem mistério – parte 3

Gálatas sem mistério – parte 4

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