Ecumenismo versus exclusivismo

Scripture-Wrestling

Permita-me falar sobre o que considero uma compreensão equivocada muitas vezes presente no pensamento adventista e evangélico. Existe grande preocupação e temor em relação ao ecumenismo, e com razão. O que geralmente os evangélicos chamam de ecumenismo é um processo de unificação religiosa com propósitos políticos. Quando religião e política se misturam, acontecem coisas ruins, especialmente aos crentes fiéis que alcançaram uma espiritualidade mais profunda e rejeitaram a pauta política de muitas instituições religiosas.

Mas existe outro tipo de “ecumenismo”, que consiste no chamado de Deus a muitos indivíduos de cada instituição religiosa do globo (Apocalipse 18:4). Entre católicos, muçulmanos, hindus, judeus, budistas e todos os demais grupos, há muitas pessoas que estão buscando a verdade e vivem um relacionamento com Deus. Por meio do Espírito Santo, Deus está presente em cada lugar antes mesmo que os missionários cheguem lá. Tenho encontrado a fé genuína em muitos lugares que jamais imaginei. […]

Corremos o risco de nos preocupar tanto com os riscos do ecumenismo que nos afastemos dos vizinhos, amigos e familiares que pensam e vivem de maneira diferente. O remanescente de Deus do tempo do fim será formado por pessoas de todas as nações, tribos, línguas, povos  e – sim – religiões (Apocalipse 14:6; 18:1-4). Temo que o pensamento de algumas pessoas nos leve a ver “demônios por trás de cada arbusto” e inspire em nós desconfiança em relação aos outros, de modo que nos afastemos deles. Deus, em vez disso, está tentando reunir as pessoas.

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No pensamento de muitos adventistas (e evangélicos), existe a crença de que nossa religião possui a verdade e os outros estão perdidos. No fim dos tempos, as pessoas abandonarão sua religião falha e se juntarão a nós, formando o remanescente do tempo do fim (ou algo equivalente). Os que apresentam esse raciocínio não percebem que todas as instituições religiosas são falhas, inclusive a nossa. Todas as instituições religiosas são tentativas humanas de testemunhar da atuação de Deus no mundo. Isso é muito bom; devemos apreciar as ações que Deus realiza em nosso meio e falar sobre elas ao mundo. Mas, com o passar do tempo, as instituições religiosas se tornam cada vez mais focadas na autopreservação e menos focadas na missão original. É por isso que reformas espirituais sempre são necessárias em cada fé.

No fim dos tempos, todas as instituições religiosas estarão divididas entre os que desejam preservar a “bolha” humana e os que mantiveram ou recapturaram o espírito e a missão original da fé. O remanescente fiel de cada religião demonstrará ter mais em comum uns com os outros do que com os parceiros de sua própria religião. […]

Estas minhas reflexões podem parecer confusas e menos satisfatórias do que uma explicação do tipo “preto no branco”. Mas geralmente a verdade é uma tensão entre dois polos (como a natureza divina e humana de Cristo, ou o papel da fé e das obras na experiência cristã). Não é fácil encontrar um equilíbrio entre o precipício do ecumenismo e o precipício do exclusivismo. O nosso desafio é estar abertos às pessoas e aceitá-las ao mesmo tempo em que discernimos a verdade e o erro.

Jon Paulien, Ph.D., é diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Loma Linda (EUA). Retirado de “Final Reflections on the Spiritual Formation Debate”.

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